Uma verdadeira FACTORY!
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Era tarde de seis da manhã quando se levantou naquela aurora húmida de dia frio de Novembro. E como todos os dias frios de Novembro, resignava-se à sua sorte sem soltar um "ai" nem deixar rolar uma das suas lágrimas secas de resignação. Vestia-se rapidamente de roupa de trabalho do dia anterior ainda a cheirar a chapa humedecida, calçava as suas velhas botas de trabalho cor de cinza triste e saía. Percorria os caminhos de lama faúlha e árvores mecânicas com seiva de óleo queimado e ramos com restolho de rodas de comboios férreos em musculados carris polidos. Podia ser uma caminhada de quilómetros. Ou podia ser uma caminhada de alguns metros. Não se lembrava. Resignava-se com a justiça injusta do sol a sol. Lá à frente, o seu destino indiferente... a caixa fábrica monstruosa de tijolo outrora vermelho que agora fingia ser de Ferruginosa madeira. Era então que iniciava o seu ritual de movimentos oscilantes de rótulas de rolamentos desgastados pelos anos com a definição metalúrgica de troncos irrigados pela natureza ainda por morrer. E nas faíscas de cada rolamento das suas rótulas, recordava-se das cinzas do teu olhar. Quase chorava. Quase desistia. Quase deixava transformar-se em cinza. Mas resignava-se e, com a força de um robusto maquinista a carvão, lutava pelo naco de pão que levava para casa no cedo das seis da tarde de final de dia frio de Novembro. Então, no final, no final, com um suspiro de espesso fumo irrespirável, segurava finalmente o envelope encardido de amarelo oleado de papel velho. Quase sorria com a recordação da tua existência para esconder as lágrimas secas de resignação. As tuas palavras não se desvaneciam; as tuas palavras continuavam vivas no silvo da fricção nos carris desgastados da idade suja do carvão.
Rui Sousa Silva
Rui Sousa Silva
Para os que gostam de apreciar e para os que gostam de oferecer obras de arte, recomendamos vivamente a visita!
Até 7 Janeiro 2012.
enjoy :)
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